larissa cemitério
Artista multimídia carioca, atuando em São Paulo, adentrando em diversas áreas tais como perfomance, modelagem, produção dentre outras.
lino calixto
Lino Calixto é trans não-binárie prete paraense, trabalha como artista-pesquisadore, ator, performer, modele, arte-educadore e agente cultural. Como artista pesquisa o corpo e a estética em relação à tentativa de rompimento com os pactos coloniais e a construção de memórias disruptivas no imaginário coletivo. Desenvolvendo as bombas-narrativas e palhaçadas poéticas enquanto registros míticos de nossas vivências em disputa.
xãtana xãtara
Travesti indígena, 24 anos. Tem como foco de trabalho a decolonização dos corpos e da arte, numa possibilidade de retomada e resistência do contexto originário urbano.
Onde Habita a Minha Pele
Lino Calixto
Trabalho nasce do encontro confinado de três artistas transvestigeneres que desvendam em suas trajetórias as narrativas gritadas pelos próprios corpos.
Desvendar em si, no espaço e no outre a relação com o corpo e suas lutas e leituras. Ao vivermos em uma sociedade que estetiza nossa forma de ser para caber no cistema binário e opressor, destruímos aquilo que nos foi imposto e nos remoldamos para caber em nós mesmos com as ferramentas que encontramos pelo caminho. Em busca de nossa liberdade ainda caímos em novos aprisionamentos.
Na quarentena, em solitude nos reencontramos e nos buscamos no escuro. E decidimos a cada dia como nos apresentar e nos moldar nessa guerra.
Vício
Larissa Cemitério
O corpo em que hAbito repleto de desejos repetitivos que degenera ou causa algum
prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem; eu mesma.
Assim como qualquer entorpecente venho por meio desta performance trazer a
realidade dentre corpos trans viciados no desejo de parecer algo, trago a imagem
desses que resolvem se envenenar por meio de hormônios.
Caindo em um vício não só físico como psicológico. Entre seringas e comprimidos,
vivendo de forma “artificial” justamente por causa de uma sociedade plástica,
tentamos a todo tempo e buscamos com desejo e gana o pertencimento, uma
imagem, alimentando não a nós mesmas e sim uma sociedade que nos cobra isso
a todo tempo; o de se parecer pra pertencer, o de se parecer para de fato ser. E de
carro em carro, atrás do dinheiro do meu vício, eu sigo mais uma vez, ganhando o
mínimo possível pra suprir a necessidade do meu corpo viciado.
Sendo empurradas à isso para nos enquadrarmos e conquistarmos o mais próximo
possível a um corpo binário; mas a noite, no escuro, essas questões sempre caem por
terra. Costumo dizer que a luz do dia é a maior julgadora de nossos corpos. Nossos
corpos não são aceitos a luz do dia, a luz natural, só na luz artificial entre quatro
paredes que foi o lugar em que sempre nos colocam. Quando o meu processo de
entendimento ficou mais claro sobre o que de fato eu era, eu passei a viver no breu,
esse mesmo breu que me conforta, me esconde e que me acolhe. Afinal a noite, tudo
é possível, você pode ser quem quiser, sem julgamentos, sem precedentes.
Em contra partida, não serei hipócrita a ponto de dizer que abomino o uso dessas
substâncias, até por que eu mesma faço uso, mas venho mostrar por meio deste ato a
auto-multilação que somos obrigadas à nos submetemos desnecessariamente em
busca de um corpo estereotipado sempre nos obrigaram a ter.
Por fim fazendo uma terapia hormonal, que pra mim é um vício como qualquer outro,
se não pior… Fazendo com que tenhamos medo e disforias do nosso próprio corpo,
medo de enfrentar uma sociedade que nos mata, mas também nos procura o tempo
inteiro.
Para consultas sobre vendas: muthabrasil@gmail.com