Gab Dias é Artista Visual de Palmas, Tocantins e cresceu em Brasília. Estuda Licenciatura em Artes Visuais na Universidade de Brasília e Design Gráfico no IESB. Suas obras mostram as coisas do cotidiano e dos seus interiores: palavras ditas e não ditas, fragmentos do dia-a-dia, as peculiaridades da vida e as histórias que permeiam os arredores. Seu foco de estudo é a diáspora, vertentes de filosofia africana e a vivência de pessoas negras & LGBT.

Pintura
Tamanho: 50 cm x 60 cm
Material: Tinta acrílica, Spray e Caneta Posca
Ano: 2020
A maior parte da minha família descende de indígenas e negros que vieram da África nos navios negreiros. Até onde eu sei, meus trisavós e todos que vieram depois deles viviam no Sertão Mineiro.
Grande parte do sustento da minha família materna vinha do Rio São Francisco, onde minha avó e tias trabalhavam como lavadeiras e outros familiares pescavam, lavavam os utensílios domésticos, tomavam banho e também se divertiam nadando e procurando piabas. Minha família paterna era composta por trabalhadores rurais, que passaram a vida inteira trabalhando em diversas terras em Minas Gerais. Com todos eles eu aprendi a importância da resiliência, de ter uma moradia e como as oportunidades de estudo e trabalho podem mudar a história de uma família inteira.
Essa obra é uma homenagem a meus familiares e a todas as pessoas que trabalharam como eletricistas, lavadeiras, faxineiras, cozinheiras, agricultores e costureiras durante a maior parte de sua vida. É uma homenagem à classe trabalhadora do nosso país, às pessoas que fazem com que o Brasil continue funcionando.
Série de Fotografias e Textos sobre Memórias
Arquivo
Autoria: Gab Dias e Tuko Dias
Tamanhos: Variados
Ano: 1997/2002
Eu nasci no interior do Tocantins, em outro sertão. Meus pais trabalhavam com reforma agrária e quebradeiras de coco babaçu. A luta pela terra em 1999 já era uma questão latente. Meu pai trabalhava rodeado de cabras marcados pra morrer e cabras marcados pra matar. Taquaruçu do Porto era uma região com muitos fazendeiros, muita pobreza, e muita gente decidida a reivindicar seus direitos pela terra. Essa foi nossa morada durante os primeiros anos da minha vida. Meus pais andavam sempre com uma câmera analógica Vivitar, documentando nosso dia a dia. Em 2020, quando estávamos digitalizando alguns rolos de filme analógico daquela época, nos deparamos com essas fotos que foram tiradas pelo meu pai Tuko Dias entre 1997 e 2002.

Meu pai e seus colegas de trabalho estavam indo para uma reunião nesse assentamento, no meio da fumaça, com a floresta queimando em volta.

Meu pai à caminho de um assentamento da reforma agrária no Município de Colinas-TO, uma área de cerrado e transição para Amazônia, com floresta e veredas, onde ia dar um curso de capacitação. Os assentados estavam queimando as florestas para instalar seus sítios e pastagens. Os fazendeiros estavam levando o gado para vender na cidade e todos os outros viajantes precisavam parar o carro para esperar o gado passar.

Meu avô materno, Geraldo José de Souza, trabalhava na SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública) indo de casa em casa no sertão mineiro combatendo o inseto barbeiro utilizando um inseticida.
As casas de taipa tinham paredes de barro e telhado de palha, materiais que favoreciam a proliferação de insetos como o barbeiro, que transmite a doença de chagas. Minha avó paterna, Elisa Dias, foi uma das incontáveis pessoas no Brasil que contraiu essa doença, depois de anos morando em uma casa de taipa.

Nos anos 80, em São Luís do Maranhão se iniciou uma cultura forte do Reggae. Muitas bandas saíam do Maranhão e iam mostrando suas músicas para pessoas das regiões vizinhas, como Pará e Tocantins. Foram levando a cultura do Reggae e músicas ligadas ao Caribe, como por exemplo a banda Tribo de Jah.

Numa reunião da CPT, onde minha mãe trabalhava, no meio da preparação para o “Grito da Terra Brasil”, que é uma das maiores atividades de massa que o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR).

É uma região de beira de rio onde se formaram várias vilas. Quando se abriram as estradas, grande parte da população se deslocou para as cidades, mas algumas pessoas ainda ficaram na beira do rio e são afetadas pela enchente frequente, que chega a cobrir as casas. Elas transportam seus bens para outros lugares, saem de casa de canoa carregando o que podem e depois voltam quando a enchente acaba.

A inundação de 2.830 km² provocou muitos problemas ambientais, como alteração da fauna, da flora, do solo, do clima e da água, ocasionando a morte de animais e muitas doenças aos que moram a jusante da barragem, como intoxicação aguda e câncer de pele (MAB, 20/05/2009).

Essa manifestação foi em Palmas, Tocantins, na cidade onde eu nasci. O Grito da Terra Brasil costuma acontecer anualmente entre Junho e Julho, em todas as capitais do Brasil. Os integrantes da rede de sindicatos em todo o Brasil decidem as pautas e fazem reivindicações dirigidas a diferentes partes do governo.

As lavadeiras, como minha avó e tias, lavavam roupas na beira do Rio para sustentar suas famílias. Até carros, ônibus e caminhões eram lavados na beira do Araguaia.

Cena característica da região Norte e Nordeste do Brasil, retratando as moradias cobertas pela palha do coco babaçu. O babaçu é uma palmeira muito importante para a população do Tocantins, Maranhão, Piauí e Pará, onde seu óleo é utilizado para temperar comida e fazer sabão, a sua palha para fazer chapéu e adubar o chão, a sua casca para fazer carvão. Por cinco anos, minha mãe assessorou as mulheres do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que reivindicava por políticas públicas para as comunidades quebradeiras de coco no Bico do Papagaio, no extremo norte de Tocantins.
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