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GAÉ CHARRÍ

    Me chamo Gaé – para os íntimos. Tenho 25 anos de sonho e de sangue, América do Sul e de transviadagens. Nasci no Rio como Amanda, vivi na Bahia por 4 anos entre trancos e barrancos, passei por algumas tentativas de homicídio na primeira cidade em que cheguei por conta da transfobia dos locais, me mudei para uma cidade maior, a capital baiana, Salvador. Fiquei lá estudando trabalhando, aprimorando habilidades artísticas e as modificações corporais para transição de gênero por quase 3 anos. Foi uma correria sem fim desde cheguei até quando parti, ao inicio da pandemia de Covid-19.

    Estive estudando por todo o tempo as maneiras de me afirmar e me emancipar através da minha produção corporal e intelectual e agora estou em um momento de correr atrás desse reconhecimento profissional em minhas atividades artísticas.
    Me considero refugiado em Alto Paraíso, GO. Continuo escrevendo, desenhando e elaborando maneiras de me relacionar com meu corpo e com outros corpos para que possamos gerar cada vez mais liberdade.

    Corpo na galeria III
    Desenho, pintura e colagem
    Tamanho: 4962 x 3509 pixels
    Material: Tinta guache, nanquim e caneta posca.
    Ano: 2020
    Ainda no estudo da anatomia estética e seu encontro com a exposição “Corpo Humano, Real e Fascinante” (2008, Museu Histórico Nacional) produzi diversos decalques que exploravam o corpo em si mesmo, as camadas, os órgãos, as porções, as concavidades, uma viagem entre o corpo e próprio corpo. Após muitos desses estudos resolvo preencher esse corpo com espaço, e colocar esse corpo como parte de um fluxo espacial. Corpo na Galeria é a terceira de quatro obras nas quais insiro o corpo no espaço e deixo que esse espaço respire no corpo. Despessoalizar o corpo e deixar que ele seja uma dobra do espaço, uma sugestão de imagem no espaço, ao mesmo tempo que é a obra e que aprecia a obra na galeria.
    Músculo Vago
    Desenho, pintura e colagem
    Tamanho: 1913 x 2677 pixels
    Material: Tinta guache, nanquim e caneta posca.
    Ano: 2020
    A obra criada em 2020 é fruto da pesquisa entre a estética corporal e o corpo fisiológico. Essa pesquisa se inicia intuitivamente à partir da minha maneira de olhar meu próprio corpo no espelho e estudar como ele se compõe. Enquanto analiso as características que me causam prazer, dor, estranhezas, busco entender como esse corpo se produz. Dessa experiência parto para um interesse em analisar a visualidade do estudo fisiológico utilizado na medicina e me recordo da exposição \”O corpo humano, Real, Fascinante\”, a qual visitei quando adolescente e jamais me esqueci. A memória do futuro, que é berço das criações, abre uma fenda quando inicio o decalque da fotografia de um dos corpos expostos e lança essa produção, que é uma tradução do corpo aberto, vulnerável, cortado em tiras. Os músculos que se abrem como um leque, desenhando o caminho feito por esse corpo que anda com o próprio músculo empregado para se movimentar.
    A cobra
    Desenho, pintura e colagem
    Tamanho: 1818 x 2592 pixels
    Material: Tinta guache, nanquim e caneta posca.
    Ano: 2020
    Um dos encontros mais potentes que tive foi com as éticas e estéticas Tikmu’un, Pataxó e Huni Kuin. Diante e adentro desse contato, a apreciação e interesse que tinha pela visualidade apresentada ao meu redor e – por que não? – a visualidade interior, até mesmo o escuro total, passa a ganhar novos estímulos. Muito que eu não havia notado estava nos seres extra humanos, pinturas incríveis que besouros levavam nas costas, cobras, lagartos, a textura e desenho de árvores e folhas! Uma infinidade de singularidades! Riquezas que além de trazerem consigo padrões bidimensionais e cores que me faziam vibrar também se movimentavam e se relacionavam cada um à sua maneira. Encontrar com Ibã Huni Kuin na Universidade Federal do sul da Bahia e receber aulas de ateliê dele, que trazia a Miração como um processo criativo e de cura; Pesquisar junto à colegas Pataxó e visitar a aldeia da Jaqueira e do Araticum, vivenciar os embates entre a rigidez da Universidade e a consistência dessas práticas, presenciar-lhes, suas vozes, seus corpos, sua generosidade em partilhar das estéticas que tendo eles apreciado em outros seres, produziam à partir de si mesmos; aprender com mestres Tikmu’un um pouco de seu idioma, seus hábitos, cotidianos, espiritualidades, poder vivenciar um pouco de suas complexas relações de troca entre diversos povos espírito, povos da floresta, espécimes de animais e plantas. A maneira deles de inventar a vida transformou a minha. Esse trabalho é uma das fruições que jamais teria ocorrido se não os tivesse encontrado. Chama-se A Cobra pois é o deslizar de um Jazz, fluindo sutilmente e de repente quebrando. Foi feito num dia de chuva e melancolia no início do período de isolamento social em 2020 e não menos melancólico e não menos chuvoso, o jazz e o desejo de integrá-lo em visualidade.

    Para consultas sobre vendas: muthabrasil@gmail.com

    COMO CITAR O MUTHA?

    O MUTHA é uma obra artística e um projeto científico autoral de Ian Guimarães Habib. Por esse motivo, o MUTHA deve ser citado junto de sua autoria, a partir da seguinte obra:

    HABIB, Ian Guimarães. Corpos Transformacionais: a transformação corporal nas artes da cena. São Paulo: Ed. Hucitec, 2021.